quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Ordem de Melki-Tzedek

A gota de suor escorria pela face. O coração saltava à boca. Nos olhos os fortes fótons do sol agrediam-lhe as retinas, mas sabia estar na direção certa. Portava uma faca e um revólver, mas não tinha certeza se conseguiria usá-los. Sua missão era árdua e ele sabia bem.

Aos mais de três mil metros de altura no Himalaia, em pleno verão, sentia o sol queimando-lhe a pele e, ao mesmo tempo, um vento cortante penetrando-lhe a face fazia-o lembrar das contradições em que se metera.

Habilidoso, conseguia pular de uma parede a outra numa montanha para mais facilmente correr e escalar. Técnica desenvolvida para soldados em corridas urbanas, a corrida livre era a sua habilidade física mais exemplar, para isso fora escolhido para a missão de sacrificar um homem em nome da humanidade.

Algumas semanas antes, um selo apareceu no salão oval, bem no meio da sala. Um selo incomum, contendo apenas um olho de um lado e uma mensagem no outro: FÉ. E desde então, uma ordem da presidência da república de seu país solicitou que o agente special Warren Smith viajasse para o Himalaia para buscar o chamado Rei do Mundo. E matá-lo, antes que ele pudesse gerar seu filho.

O caminho para o reino do Rei do Mundo consiste em encontrar uma caverna no Himalaia que leva a uma trilha de dois dias caminhando até um reino secreto chamado Shambhala. Acontece que isso é uma lenda e todas as pessoas enviadas para tal missão nunca mais voltaram. Mas Warren era diferente.

Dono de uma grande habilidade física, uma grande capacidade de reabilitação de contusões, uma saúde de ferro, inteligência apurada e um grande instinto de proteção levaram Warren a trabalhar para o governo. A sua participação em guerras e como espião em diversas partes do mundo garantiram-lhe a experiência necessária para tentar cumprir esta missão suicida. Não havia como enviar um exército. Era trabalho para um homem habilidoso e corajoso o suficiente para cumprir a missão.

Com um equipamento de Raio X portátil usado por geólogos, Warren finalmente encontrou uma grande passagem no mesmo lado em que um dos últimos homens que tentaram chegar a Shambhala havia desaparecido. De fato havia uma caverna ali. Preparado, Warren retirou C4 de sua mochila. Numa homenagem aos monges da Índia, por onde havia passado antes de ir ao Himalaia, acendeu incenso e espetou sobre o C4. Recitou o mantra "Om mani padme om" algumas vezes enquanto aguardava a pequena explosão que queria provocar. Até que ela aconteceu.

O resultado: um grande buraco numa linha de parede da montanha. Uma entrada para uma enorme galeria por onde Warren poderia caminhar por dias, até chegar à cidade onde haveria de cumprir a sua missão. No entanto, para a sua surpresa, viu que estava paralisado. Na verdade algo estava diferente. O mundo inteiro havia se calado. O barulho de água que estava ouvindo antes parecia ter sumido. O vento cessou. Os pássaros se calaram. Os animais e os insetos desistiram de cantar. As árvores não mexiam uma única folha, e Warren também não podia se mexer. Era como se o mundo tivesse parado, e ele também.

Após um minuto em total silêncio, começou a ouvir uma melodia intensa, como se um grande mantra universal penetrasse a sua mente. "A música das esferas", pensou, lembrando-se do que havia lido sobre Pitágoras. Foi nesse momento que viu um homem branco, vestindo uma túnica branca e usando uma barba, também branca, olhando-o no fundo dos olhos. Para seu espanto, percebeu que o seu corpo, a começar pela sua testa, estava virando pó e o pó voltava ao chão. O homem então diz: "E o pó volte para a terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu". E todo o corpo de Warren sumiu no ar e o espírito, desencarnado de forma abrupta, ficou ali, confuso, ainda olhando o homem que, curiosamente, seguia olhando para o espírito, que continuava sem poder se mexer. Até que o homem finalmente disse:

"Eu Sou. Nomes não importam. Mas represento o que é existir sobre a face desse planeta, sob os quatro ventos dos cantos. Ninguém vem a mim sem que eu queira e ninguém vai embora sem que mereça. Seja bem vindo à Ordem de Melki-Tzedek."